sábado, 15 de março de 2008

O condicionamento do homem por Joacir S. d`Abadia

Tratar-se-á o homem não como uma natureza imutável, ou seja, algo que é inerente à natureza e não sofre alterações espaço-temporal, mas sim, a partir dos fenômenos que ele próprio é capaz de realizar e que tornam evidente a diferença específica do homem no reino animal.

Faz-se necessário uma antropologia filosófica a partir daquilo que o homem faz, isto é, o homem é um animal simbólico que trabalha, age, fala e reflete. O homem está no mundo e interfere nele, por exemplo, através da genética, e por sua vez é dependente das circunstâncias em que se encontra. As condições da existência humana estão inseridas numa variável histórica, quer dizer, o homem vive em um determinado tempo e espaço.

A vida humana é necessariamente uma vida condicionada: ao corpo, que é a compreensão da vida como (bios), e por sua vez está mais ligada às necessidades vitais, como por exemplo, a alimentação e agasalho; desde o nascimento até a morte o homem está dentro deste sistema cíclico e efêmero, onde tudo se repete, trabalha, se alimenta, dorme, isto é, precisa lutar pela vida (bios) todos os dias; toda atividade voltada para a produção do corpo (alimentação e vestimenta) que são frutos do labor, mesmo que feita através do trabalho é perecível. A vida do homem está condicionada ao mundo, porque ele interfere no mundo produzindo artefatos, que se utilizados para o seu devido fim, terão longa duração, por exemplo, uma mesa produzida por um marceneiro pode durar muitos anos, tudo que é fruto do trabalho dura para além da vida individual. Também está condicionada à pluralidade e à sociedade, os homens se interagem e essa pluralidade é marcada pela ação e pelo discurso, ou seja, a vida pública possibilita o encontro com o outro.

Enfim, ver-se-á em quais momentos da história o homem valorizou mais a esfera da ação do que a da contemplação. Na antiguidade predominava-se a ação (discurso) na Polis e em Roma. Os homens tinham desde o início a noção de vida ativa (labor, trabalho, ação). Na tradição, (socratismo + cristianismo) principalmente com o platonismo, a contemplação predomina, a teoria é mais que a ação, o ponto histórico que marca essa mudança é a morte de Sócrates, e então o homem contemplativo afasta-se da política, pois foi a Polis que condenou o filósofo. Na Era Moderna (séc. XVl) o trabalho se sobrepõe à contemplação, pois a ciência experimental só pode ser adquirida através de instrumentos feitos por meio do trabalho. Por fim, na modernidade (séc. XlX) o labor que é perecível se torna um valor, se sobrepondo ao trabalho que, por sua vez, é duradouro, à contemplação e à ação, e o Estado existe para proteger a vida (bios).

Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo por ...

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